terça-feira, março 17, 2009

A crise, a realidade e a minha “futurologia”... O que será isso do mercado pós-crise?

Estou quase a chegar aos 40 anos e há muito tempo que tive que aprender a lidar com uma realidade na minha vida, que é o facto de ser 50% brasileiro e 50% português. Digo isso por que metade de mim é extremamente optimista em relação ao futuro e a outra metade não. Metade de mim diz para ser prudente em relação ao presente e a outra metade quer alcançar voos ainda mais altos. Metade de mim é entusiasmo para vencer essa e outras crises, a outra metade também.

Não, esse texto não é sobre a minha hipotética crise da meia-idade e sim sobre a que lidamos nos dias de hoje, essa sim, bem realista.

O mercado da produção audiovisual é nesse momento um espelho das dúvidas e anseios com que toda a nossa pequena “indústria” está a se debater. Será que a publicidade tal qual a conhecemos tem mesmo seus dias contados? Os meios tradicionais serão esvaziados de investimento em detrimento das novas tecnologias? Afinal que raios é isso de novas tecnologias mesmo?

Pois é, a verdade é que ninguém ainda sabe aonde essas dúvidas irão nos levar e mente descaradamente quem diz saber ao certo as respostas a essas questões, por que simplesmente ainda ninguém as tem. Existem pistas, dicas e exemplos, mas ainda estão longe de serem terreno seguro para as nossas questões.

No que diz respeito concretamente a minha profissão, algumas coisas vieram mudar definitivamente com essa crise e francamente não acredito que voltem a ser o que eram, simplesmente tornaram-se realidade. Os valores de produção desceram aos mínimos praticáveis. As grandes produções, que sempre existirão, entram definitivamente para o campo das excepções e a crise da criatividade, potencializada pelo medo de arriscar, parece ter vindo para ficar. A película tem seus dias realmente contados e o seu uso será apenas para alguns privilegiados e entendidos. RED, data, 2 e 4K são palavras que passarão a ser de domínio público e farão parte dos nosso dia-a-dia. Finalmente o país caiu em si e felizmente copiar os ingleses não só será pouco possível, como ficou óbvio, é provinciano. A necessidade nos conduzirá a nossa própria linguagem, seja ela qual for. Produtoras como a minha, caminharão cada vez mais para a produção de conteúdos próprios ou encomendados e levaremos nosso know how de produção e padrão de qualidade a terrenos que não estão habituados a eles, nomeadamente televisão a cabo e internet. Não teremos outra alternativa que não essa, diversificar oferta.

A realização se democratizará assim como a criação deixará de ser um exclusivo de um grupo pequeno de pessoas, as relações directas cliente-produção serão uma realidade incontornável e fatalmente todos terão que aprender a lidar com esse novo molde de logística e negócio, o que aliás já é cada vez mais uma realidade.

Os projectos sérios, serão sempre alvo de inveja por parte de quem não o é e fórmulas milagrosas surgirão umas após outras na produção, até só sobreviverem aquelas que são assentes nos valores de sempre; seriedade, competência, trabalho, honestidade e sobretudo talento.

A verdade é que não nos resta muito além de trabalharmos ainda mais para mantermos o que temos como correcto na esperança que nossas convicções estejam certas, e se é verdade que a crise existe e nos afecta à todos, nesses dias de incertezas, há uma ideia, um conceito, que não me sai da cabeça, desde que ouvi: “Na crise, enquanto uns choram, outros aproveitam para vender lenços de papel...”
;-)

Alexandre Montenegro, realizador Show Off Films.
http://batmanlusitano.blogspot.com

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Esse texto é minha resposta ao desafio que a Meios & Publicidade me fez sobre o futuro da produção. Não sei se irão publica-lo na integra, por isso cá está.