domingo, maio 06, 2007

ACABOU O JANTAR.


Acabou o jantar. “Agora tenho que fazer o caminho todo de volta”, foi o que ela pensou enquanto se despedia daqueles com quem tinha acabado de jantar. Alguém interessante? “O João, se calhar – mas ele tem namorada – e ela é bem gira”. Mais alguém? “O outro João – mas a namorada dele está grávida – e ele não fugiu!”. Está frio. O carro está longe. A rua está deserta. Está muito escuro. O carro está mesmo longe. E ela vai pensando, a caminho do carro, que estes jantares tem sempre umas conversas engraçadas. Anda mais rápido. Medo? Não. É incrível como se pode aprender uma coisa nova, com aquela pessoa que sem saber, acabou de dizer um grande segredo. Uma bobagem, mas que para ela, naquele momento, abriu um novo caminho. Mais uma janela dentre aquelas que se vinham abrindo nos últimos meses. Tantas janelas. Aquela que se abriu quando ela se viu pela primeira vez sozinha. Sozinha. Ainda falta um quarteirão para chegar ao carro. Medo? Não. Aquela primeira janela deu num corredor cheio de janelas, todas se abrindo, umas atrás das outras, trazendo experiências incríveis. Descobertas. Transformações. E ele não ligou. Nem mais uma vez. O pai da sua criança, que nunca nasceu. Mas as janelas, as janelas. Umas que traziam ventos e tempestades, outras que deixavam entrar uma leve brisa. Umas que deixavam entrar calor. “Ai, o carro! Que bom!” Liga o aquecimento, tranca a porta. Põe o cinto. Para dar na estrada é só seguir em frente. Em frente, mas para o outro lado. Dá a volta. Segue. Acaba por descobrir que dava tudo na mesma. Dum lado ou do outro dava no mesmo lugar. Na estrada. 120 Km, liga o som. Deixa ele passar. Aumenta o volume. Muito. Música 10. Agora só falta o caminho todo de volta. E depois, chegar e procurar um lugar para estacionar... Mas isto é mais tarde. Agora ela está na estrada, a 120km/h. E ele não ligou mesmo. “E eu estou sozinha.” Sorriso. Agora eles andam. Você acredita?! Aquela miúda tão gira! Eles andam. Ele fica encostado no balcão, com seu copo. Não fala com ninguém. “So peculiar... so him.” Ainda bem que ele não mudou! É o que aquela amiga disse. E as pessoas não mudam. Não adianta. Ou elas querem mudar, ou acontece alguma coisa. Grave. Boa ou má. Ou então não mudam. E nós não podemos tentar mudá-las. A graça das pessoas é isto. É serem aquilo que são. “Qual é a tua graça?” ela se pergunta. Portagem. Multibanco? $$. Troco. Boa Noite. Sorriso. Fecha o vidro. 120km. E ela continua se perguntando “Qual é a tua graça?” Você dá medo. É muito segura. Deve ser exigente. E então ela os viu a todos. Enfileiradinhos, um do ladinho do outro. Qual terá sido o grau de exigência? Eles são tão pouco. Pouco para oferecer. A não ser o mais querido, que apesar de ter aprendido muito, lhe deu alguma coisa que ela não tinha. E ela nem sabe o que. Se calhar, ela própria. Ele ofereceu a ela, ela própria. Fê-la ver que ela era um presente. E agora, ela, como presente que era, abriu seu embrulho e começou a ver e entender tudo o que tinha lá dentro. O medo. Abrir a caixa com medo. Aprender com o medo. E agora ter que deixá-lo ir embora. O medo de deixar o medo ir embora. “O que é que eu faço sem ele? – Não fiz nada sem ele até hoje”. E agora o medo tem que ir embora. Vai medo, vai logo. Sozinha e sem medo. E a grande janela do jantar foi o selo. Os selos. A ideia.
Para se ter uma ideia é preciso ser inteligente. Mas ninguém se esforça. Pra se ser inteligente é preciso se esforçar ou não? Ela acha que engana bem. Aprende rápido. Fácil memorização. O importante é fixar o essencial. A vivência, os livros lidos inventam o resto sem errar muito. Há outras técnicas. Enganar o próximo, é a regra. E aí ela se lembra da cartomante. Muitas descobertas... Não vejo mais ninguém para si... mas não se preocupe, ele é todo seu! Jesus. Lugar pra parar o carro. Mau dia. Muitos carros parados em fila dupla. “Vou tentar por aqui”. Lugar. Yes. Em cima da calçada. Desliga o carro. Luzes. Cinto. CDs. Sozinha e sem medo. “Acho que ainda tenho uma ponta...” Abre a porta do prédio. Sim, o lugar era perto de casa. Acende a luz. Elevador. Espelho. Sozinha e sem medo. Fade out.

---

ESTE TEXTO NÃO É MEU, E SIM DE UMA PESSOA MUITO QUERIDA.
PUBLÍCO SEM A SUA AUTORIZAÇÃO, PARA FAZER UM REPARO, MAIS OU MENOS PÚBLICO DE UM ERRO QUE, ESPERO NÃO TE TENHA FEITO NENHUM MAL... ALGUMAS VEZES FALAMOS DEMAIS, APENAS PARA TENTARMOS AJUDAR E QUANTAS VEZES PERDEMOS A SANTA CHANCE DE CALAR A BOCA! NUNCA SEGURANÇA A MAIS PODERÁ SER UM DEFEITO E AQUILO DO MEDO QUE PROVOCAS, ESQUECE, BULLSHIT DE QUEM TEM MEDO DE DIZER O QUE PENSA DE VERDADE...

Sem comentários: